O mercado de seguros enfrenta prejuízos bilionários devido aos conflitos globais, conforme noticiado pelo Valor Econômico. Com a guerra na Ucrânia e a escalada de tensões no Oriente Médio, envolvendo Israel, Hamas e Hezbollah, o setor de seguros e resseguros está sob pressão financeira crescente. Embora a maioria dos seguros patrimoniais exclua cobertura para guerras e terrorismo, “alguns ramos específicos de seguros, como os seguros aeronáuticos, marítimos, de crédito à exportação e de riscos políticos, por vezes oferecem coberturas adicionais específicas para riscos como guerra, sequestro e confisco”, observa Felipe Bastos, especialista no escritório FAS Advogados.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que o impacto econômico da guerra na Ucrânia possa chegar a US$ 35 bilhões, principalmente absorvidos por grandes resseguradoras como Lloyd’s of London e Swiss Re. O mercado de aviação, em particular, foi gravemente afetado, com aeronaves presas na Rússia e perdas que podem ultrapassar US$ 4 bilhões.
Para mitigar esses riscos, resseguradoras globais criaram reservas para cobrir custos de sinistros esperados, somando centenas de milhões de dólares. Apesar das dificuldades, o relatório da OCDE aponta que as perdas do setor são gerenciáveis e não devem impactar significativamente a solvência das empresas. “As seguradoras aceitam os riscos dentro das suas possibilidades, repassam parte desse risco para as resseguradoras, que têm uma determinada capacidade de operar, e elas fazem da mesma maneira”, explica Antônio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
Se as perdas não podem ser evitadas, podem ser amortizadas e minimizadas. “O que normalmente acontece depois é que, se o balanço de uma seguradora ou resseguradora em uma determinada linha de produtos está no vermelho, os subscritores ajustam as taxas nas renovações seguintes. Dessa forma, em um ou dois anos, eles conseguem recuperar as perdas e equilibrar a carteira”, conclui Trindade.
O aumento dos custos também reflete o impacto nas cadeias de produção global. O conflito na Ucrânia prejudicou o abastecimento de fertilizantes, enquanto o Oriente Médio, responsável por 35% da produção mundial de petróleo, está vendo aumentos nos prêmios de seguros marítimos, especialmente no estreito de Ormuz. As tensões no mar do Sul da China e um possível conflito envolvendo Taiwan também estão sendo monitorados, preparando o setor de seguros para novos desafios.